Terapia Fala

Gaguez

A Intervenção Insight
Considerada por muitos como a patologia mais dinâmica da comunicação, a gaguez aparece e desaparece, volta a aparecer e, muitas vezes, permanece!

A prevenção é a palavra de ordem.

No que toca à gaguez faz mais sentido do que nunca, pois todos os estudos apontam para a maior eficácia de uma actuação precoce.

 

O que é a Gaguez?

Utilizando os termos apropriados, a Gaguez é uma perturbação da fluência de etiologia multifactorial (reunindo factores genéticos, ambientais e neurofisiológicos).

 

Factores Genéticos

É conhecida a apetência da gaguez correr em famílias.

É muito comum quem gagueja ter um primo, tio ou pai que gagueja um pouco.

Este facto foi a base da realização de vários estudos de genética.

Num estudo de Fevereiro de 2010, foram identificadas em 10% da amostra mutações genéticas em 3 genes.

Estes genes estão associados a zonas de processamento da fala a nível cerebral.

 

Factores neurofisiológicos

Investigações recentes com recurso a imagens de funcionamento cerebral, demonstraram que durante o discurso de uma pessoa que gagueja, existe por vezes a activação anómala de determinadas zonas cerebrais (sobretudo maior activação do hemisfério direito).

Contudo ainda se especula em relação a estas alterações, serão a causa ou por outro lado uma consequência da Gaguez?

 

Factores ambientais

A dinâmica famíliar, o desenvolvimento linguístico, a pressão do meio e ainda as experiências vividas pela criança são considerados factores ambientais que quando em interacção com os restantes factores podem despoletar um quadro de Gaguez.

 

Sinais…

Os primeiros sintomas podem surgir a partir dos 3/4 anos de idade - Gaguez de Desenvolvimento - ou em idade adulta - Gaguez psicogénica e Gaguez neurogénica.

A Gaguez caracteriza-se, sobretudo por alterações ao nível do acto motor inerente à fala, ou seja, por interrupções no discurso, que impossibilitam o individuo de dizer o que quer e quando quer, e traduzem-se muitas vezes em situações de embaraço e frustração.

 

Estas rupturas discursivas designam-se por comportamentos primários de gaguez e compreendem três tipos distintos:

  1. os Bloqueios (“ Onde está o…,…,…prato?”);
  2. Repetições (“On…On…Onde está o prato?”);
  3. Prolongamentos (Onde essssstá o prato?).

Associados a estes podem surgir os designados comportamentos secundários, que compreendem manifestações físicas – piscar de olhos, movimentos com a cabeça, tremor nos lábios, entre outros – e mudanças de atitude perante a comunicação, que passam, por exemplo, por evitar determinadas situações, palavras ou sons.

 

 

O Impacto da Gaguez na Qualidade de Vida

Considerando a importância social e profissional da comunicação, a gaguez revela-se uma enorme fonte de problemas no dia-a-dia.

O medo de falar, de ser gozado, ou o simples receio de enfrentar a impaciência das pessoas, são factores que condicionam a socialização desde muito cedo, normalmente desde os 5 anos.

Estas dificuldades, quando se agravam, acabam por ter reflexos a vários níveis.

A nível escolar, as dificuldades surgem, não só a nível da participação - apresentações orais, leitura em voz alta, interacção nas aulas -, mas também na forma como lidam com esse gozo por parte dos colegas, e na falta de compreensão por parte de alguns professores, que tendem a puni-los no aproveitamento académico.

 

Na maioria das vezes, a Gaguez não condiciona apenas a vida escolar, tende a limitar as escolhas ao longo da vida, como a profissão ou a capacidade de obtenção de determinados trabalhos. Difíceis para qualquer candidato, as entrevistas de emprego são um drama para quem gagueja.

O sentimento de que o avaliador se está a focar no discurso (e não nas competências) faz com que a tensão aumente e, em consequência, a gaguez. A capacidade de trabalho também pode ser afectada.

 

Todas as tarefas que envolvam a comunicação oral, desde falar ao telefone, pedir esclarecimentos, ou fornecer orientações, revelam-se obstáculos difíceis de transpor.

Quem gagueja tende a demorar mais tempo nas tarefas relacionadas com a comunicação, diminuindo a “performance” do seu trabalho, e influenciando negativamente a progressão de carreira. A gaguez é considerada por muitos como um “handicap” e é tida em conta nas avaliações por parte dos superiores.

 

Segundo diversos estudos, existe uma relação estreita entre gaguez e auto-estima.

A raiva, a culpa e a vergonha são consideradas emoções evocadas pela gaguez, enquanto a ansiedade e o nervosismo, sentimentos associados ao gaguejar.

A maior parte dos indivíduos encontra, nas relações familiares, apoio e compreensão contra esta problemática.

No entanto, estão referenciados casos de incompreensão e impaciência por parte de familiares, que agravaram o natural sentimento de solidão.

 

A Terapia como resposta à Gaguez.

Na intervenção com o paciente, o tratamento não se centra na Gaguez mas sim na pessoa, dividindo-se em duas partes de igual relevância: a aprendizagem de estratégias e técnicas de melhoramento da fluência; e as formas de lidar com situações reais que causam desconforto e sofrimento para quem gagueja.

O trabalho evolui no sentido de eliminar o impacto da Gaguez na Qualidade de Vida de quem gagueja.

 

Os resultados obtidos pela intervenção em Terapia demonstram que nunca é tarde para tratar a gaguez, dificuldade que condiciona gravemente o quotidiano de milhares de pessoas.

 

 

Conselhos para lidar com crianças que gaguejam

  1. Não peça à criança para ter calma ou para falar devagar, isto só criará preocupação em relação à forma como se expressa. É importante que a criança não se aperceba, através de palavras, gestos ou acções, de que está preocupado com a sua maneira de falar.
  2. Nunca chame “gaga” à criança, não a rotule. Nunca pedir para “ter calma” ou “pára e respira”. Este procedimento poderá resultar no momento mas só está a aumentar a tensão da criança em relação à comunicação.
  3. e tiver que interromper a criança enquanto fala, faça-o no fim de uma frase, nunca no começo ou a meio.
  4. Faça com que o momento da conversa seja um espaço de tranquilidade, relaxamento e de prazer.
  5. Não peça à criança para falar quando estiver numa situação desconfortável ou sob o efeito de uma emoção forte. O choro, por si só, é repetitivo. Quando se pergunta algo à criança durante uma crise de choro, ela tem dificuldade em organizar os sons sem os repetir.
  6. Olhe nos olhos da criança enquanto fala, mantendo uma fisionomia serena. Mostre-lhe que está muito interessado no que ela diz, faça-a sentir que tem prazer em escutar o que ela diz, que valoriza o conteúdo e não a forma.


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