Em Itália, chamam-lhes mammoni – adultos que veneram a mãe.
Telefonam-lhes todos os dias, vivem perto delas e morrem pelos seus cozinhados.
Espanhóis, portugueses e italianos são os piores.
Por Cláudia Faria
Não há lulas recheadas como as de Maria Helena Gomes. Aos 71 anos, a ex-cozinheira continua a preparar o prato preferido do único filho, Paulo Bento. O treinador do Sporting retribui com mimos e chamadas. "Desde que saí de casa, aos 22 anos, telefono todos os dias à minha mãe. Quando fui para Oviedo, em Espanha, ligava-lhe duas vezes por dia, de manhã e à noite", confessa. Desde a morte do marido, em 2001, que Maria Helena vive com o filho em Sintra. "Dá-me prazer que esteja comigo", diz Paulo Bento.
É um laço muito comum no mundo do futebol. O seleccionador de Inglaterra, o italiano Fabio Capello, de 61 anos, também telefona a mãe todos os dias. "É carinhoso como uma flor", disse Evelina Capello ao britânico the Guardian. "Liga-me a dizer que tem saudades minhas e sente falta dos meus cozinhados. Sempre foi um menino da mamã (...). Quando estava a treinar o Real Madrid, ligava-me a dizer que se queria ir embora." Em Itália, já há um nome para os homens que não conseguem cortar o cordão umbilical – mammoni.
O termo foi criado pelos americanos Mark J. Penn e E. Kinney Zalesne, autores do livro Microtrends. Designa os homens adultos que saem de casa tarde – depois dos 30 anos – e os que, mesmo a viver sozinhos, mantêm uma relação intensa com mãe.
Dá-me colinho, mãezinha
SER UM FILHO DEDICADO JÁ NÃO É UM ESTIGMA. AGORA É UMA FORMA DE AFASTAR O FANTASMA DO MACHISMO. CINCO PORTUGUESES CONFESSÃO O AMOR PELA MÃE
O LIVRO REVELA QUE este comportamento é mais comum nos países do Sul da Europa, sobretudo Itália, Portugal e Espanha. O psicoterapeuta Vasco Soares diz que o fenómeno sobressai mais na cultura mediterrânica, mas existe em todo o Ocidente. "Há uma certa predilecção das mães pelos filhos por questões culturais e emocionais. Por um lado, eles preservam o nome da família; por outro, podem ajudar as mães a recuperar emocionalmente da relação difícil que tiveram com os seus próprios pais."