Longe do tabu de outros tempos, hoje o sexo é visto e aceite como algo natural. O mais comum é perder a virgindade por volta dos 17 anos, quando o sexo, o desejo e a excitação invadem a mente dos adolescentes.
A vivência da sexualidade arranca sem medo de serem criticados ou reprimidos sem pressões éticas ou morais, o que se revela muito positivo para relações sexuais saudáveis.
Aos meios mais vulgares para estabelecer contactos fortuitos como discotecas e bares, juntam-se as novas tecnologias, como a internet e os seus fóruns, tão propícios a ciberrelações e ao cibersexo. O anonimato da rede fomenta fantasias, seja através de chats e correio electrónico ou de pornografia mais explícita.
"O cibersexo é mais uma forma de ir buscar satisfação sem compromissos. Não se tem que ter contacto real com o outro. Não há exigências de compromisso. O que há é o momento e depois cada qual para seu lado. O cibersexo também é utilizado por pessoas que têm dificuldades de contacto e relacionamento mais acessível", explica o Dr. Vasco Catarino Soares, Psicoterapeuta e Director da clínica Insight-Psicologia. O problema começa quando a fantasia se mistura com a realidade e quando as pessoas se viciam nela.
O Limite entre o natural e o patológico
A sexualidade é uma função biológica, tão natural como comer e dormir, "temos que encará-la como normal e necessária a vários níveis: emocional, físico, social (procriação)... Todos os seres humanos adultos, com uma sexualidade saudável, procuram no relacionamento sexual a satisfação física e emocional, o orgasmo e a partilha emocional com o outro com quem se tem intimidade e amor", explica Vasco Catarino Soares. Quando a actividade sexual é abalada por factores físicos ou psíquicos, pode desencadear conscientemente ou não, obstáculos à vida normal de qualquer indivíduo.
"Apesar de não existir uma fronteira em termos de número de vezes em que já se pode falar de sexo exagerado, como para todas as compulsões, podemos ter como parâmetro o facto de não existir uma verdadeira compensação emocional duradoura, e o facto de este comportamento – e rituais a ele associados: engate, combinações, encontros, internet... - roubar tempo às actividades normais, como o trabalho, convívio com os amigos e família", assegura o psicólogo, acrescentando que " a partir do momento em que o indivíduo não consegue investir na esfera do trabalho, convívio e intimidade podemos falar de uma situação de patologia".
Falamos então de "viciados em sexo" quando a necessidade intensa de actividade sexual interfere com o trabalho e com os relacionamentos, quando a pessoa passa a gastar enormes quantidades de tempo ordinário em vivências sexuais e a negligenciar aspectos importantes da vida quotidiana em áreas sociais, ocupacionais e recreativas. A necessidade de aumentar a intensidade, a frequência, o número ou o risco dos comportamentos sexuais para conseguir o efeito desejado, ou sentir que o efeito diminuiu apesar do mesmo nível de intensidade, da frequência, número ou risco, constitui outros dos critérios indicativos da existência de vício sexual.
"Este comportamento – e rituais a ele associados: engate, combinações, encontros, internet... - rouba tempo às actividades normais, como o trabalho, convívio com amigos e família"
Chiu...é segredo
O predomínio do vicio sexual é difícil de determinar, em parte porque os viciados em sexo são pessoas rodeadas de secretismo. Um facto é que o segredo rodeia o mundo do viciado sexual, " fora da rede de contactos que tem comportamentos semelhantes esta actividade é relativamente secreta. Pode falar-se de sexo mas não do seu exagero, que já não é muito bem visto social e culturalmente. Apesar da sexualidade estar cada vez mais aberta e não existir muita dificuldade em falar dela, os comportamentos exagerados continuam a ser pouco aceites. Até mesmo para os próprios indivíduos, que também podem não estar completamente à vontade com este seu comportamento", diz-nos o nosso especialista. Quem sofre deste problema sente-se envergonhado, e normalmente as dificuldades em reconhecê-lo, só são ultrapassadas quando surgem problemas a níveis familiares, económicos (muitos recorrem à prostituição para manter o vício), profissionais ou de saúde.
Esta patologia acarreta frequentemente consequências a nível social indicativas da sua existência, como são o caso da perda de amizades e de relações familiares. " O comportamento sexual pode levar o indivíduo a desligar-se dos seus contactos não sexuais ", da mesma forma, "os contactos sexuais também tendem a não ser duradouros e até acabar em ruptura. O que reenvia para o isolamento, relativamente a relações estáveis e frequentes relações ocasionais e superficiais", explica Vasco Catarino Soares. A ansiedade, o stress, a vergonha e a culpa são comuns no viciado em sexo que vive constantemente com medo de ser descoberto. O vício progride conduzindo a possíveis situações de depressão. "A nível emocional vai sempre permanecendo o "vazio" o não preenchimento de afectividade que desejariam (como aliás todos os seres humanos). Quanto mais se tenta e menos resultados aparecem, maior é a sensação de ineficácia, de vazio", esclarece o psicólogo.