Qual é o mais sovina: quem fica cheio de sede só para não pagar uma garrafa de água num café ou quem aponta as despesas diárias ao cêntimo?
Conheça histórias de unhas-de-fome e faça o teste para saber se é um avarento ou um mãos largas.
Por Raquel Lito
Com tanta mania de poupar, Tiago Villanueva até já passou fome. Quando vai viajar, por exemplo, o médico de 26 anos recusa entrar nos cafés dos aeroportos, porque são um roubo – acha ele... - e só voa em companhias low-cost que não servem comida. "Uma vez, houve um atraso num voo e aterrei em Lisboa completamente esfomeado e com muita sede." Entretanto, já arranjou outra estratégia para enganar o estômago: antes de ir para o aeroporto, vai ao supermercado mais próximo – e mais barato, claro – para se abastecer de chocolates.
Na escolha dos destinos, Tiago também economiza. As viagens são seleccionadas de acordo com a sua lista de conhecimentos: assim, não paga alojamento. Foi desses passeios que lhe saiu a sorte grande. Duas checas que acabara de conhecer em Praga convidaram-no para dormir em casa delas. Detalhe: só havia uma cama e o chão. Tiago aceitou a proposta de dividir a cama pelos três. Mas garante que só tinha uma motivação: poupar dinheiro. Pensou como um forreta e apenas viu números. Dormindo em casa das novas amigas, poupou os 270 euros que tinha previsto gastar num hotel durante uma semana.
Quando souberam da história, os amigos de Tiago não acreditaram que o objectivo de dele era apenas poupar uns euros. Mas ele garante que sim. E isso só ajudou a aumentar a sua fama de forreta. Ele prefere o termo "poupado". A diferença é que os outros chegam ao fim do mês com a conta a zeros e Tiago põe de parte um terço do ordenado.
COM A MESMA FACILIDADE
com que Tiago consegue poupar, os portugueses esbanjam. De facto, não somos um País de sovinas, revela o Banco de Portugal. As estatísticas confirmam: em 2005 a taxa de poupança era de 9,2% e as perspectivas não são melhores . Segundo as previsões, em 2007 a taxa de juro vai subir ao mesmo ritmo da taxa de desemprego. O padrão é comer fora e ficar preso às hipotecas. Não admira que o endividamento das famílias rebente com a escala – 131% em 2004, mais 82% que em 1994. Ou seja, não sobra nada para guardar debaixo do colchão.
A crise económica não atinge Tiago. O salário do médico cresce à medida que refina as técnicas. Dá-se ao luxo de pagar um cartão de livre trânsito num ginásio (80 euros por mês), mas aproveita todos os benefícios, incluindo o balneário onde toma duche diariamente – mesmo quando não faz exercício.
Quer poupar água em casa.
Para Tiago, o banho a 500 metros de casa é tão natural como ir às lojas de conveniência para folhear os jornais, todos os dias. Só à sexta-feira abre uma excepção: comprar o Público pela revista de Economia Dia D. Quer saber como funciona a cabeça dos ricos como Américo Amorim, Belmiro de Azevedo ou do seu filho, Paulo Azevedo.
O presidente da Sonae-com mantém a tradição de poupança da família. As viagens caras incomodam-no (a Suíça está riscada do mapa), não tem televisão em casa e foca-se no essencial. Paulo Azevedo aprendeu com o pai, que apesar de ser o homem mais rico de Portugal usa o mesmo relógio à 35 anos.
No círculo dos milionários, outros pensam assim: poupar nas coisas pequenas para investir nas grandes. Américo Amorim, o magnata da cortiça, dá o exemplo aos funcionários. Come um bife grelhado na cantina da empresa, em Santa Maria da Feira. Além de barato, é mais rápido: 20 minutos chegam para a refeição.